sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vale a pena ler!

O luto da Universidade Federal de Santa Maria

 
Vida acadêmica sofre os reflexos da tragédia na boate Kiss

Aos poucos a vida começa a retomar seu rumo na Universidade Federal de Santa Maria. Os mais de 27 mil alunos e 1,8 mil funcionários voltam à rotina com a chance de encontrar a carteira do lado vazia. As atividades recomeçaram no dia 4 de fevereiro, após uma semana de luto decretado pela universidade, que perdeu 116 alunos na tragédia da boate Kiss. Luto, superação e solidariedade são alguns dos sentimentos que estão guiando as ações da comunidade, dentro e fora do Campus. Mas como a vida acadêmica da UFSM foi afetada pela tragédia? O que a instituição está fazendo para garantir a retomada dos trabalhos?

De acordo com declarações da diretora do Centro de Educação (CE), Helenise Sangoi no portal da instituição, o entendimento dos gestores da UFSM é de que esse processo é longo e vai levar um tempo significativo dentro da comunidade. "o mais interessante de tudo é acolher. Que a nossa comunidade tenha empatia a esse sentimento e que a gente consiga transformar, dentro do possível, num momento de crescimento da nossa espiritualidade, nosso fortalecimento como espaço coletivo de enfrentamento a esse desafio", desabafa.

Ainda segundo ela, reuniões periódicas entre os diretores dos centros de ensino da UFSM e a reitoria vêm delineando os próximos passos da universidade para a retomada da rotina acadêmica. Além disso, os gestores avaliam que as alterações no Calendário Acadêmico serão discutidas em momento oportuno, pois a prioridade no momento é acolher aos alunos.

Outra orientação da direção da universidade é em relação às formaturas agendadas. De acordo com o grupo, ficou definido que se converse com os coordenadores de cada curso para resolver sobre a realização ou não das cerimônias. No caso de manter o evento, recomenda-se que, após a execução do Hino Nacional (em volume baixo), faça-se respeitado um minuto de silêncio e que sejam retiradas as músicas individuais. Segundo a diretora do CE, Helenise Sangoi, a ideia é pensar numa solenidade silenciosa como o momento requer. E os cursos que quiserem transformar a formatura solene em ato de gabinete poderão fazê-lo.

Entre as principais atividades definidas, estão a criação do Centro de Acolhimento e a construção de um memorial em homenagem aos estudantes que faleceram no incêndio.  O Centro de Acolhimento tem como sede o Espaço Multiuso, próximo ao prédio da reitoria. A estrutura conta com uma equipe de psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistentes sociais, que são coordenados pela pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis, Marian Noal Moro.

Ao Jornal O Globo, ela falou sobre a discussão em torno do recomeço das aulas. "Havia professores que apoiavam um adiamento mais longo ou até o cancelamento do calendário. Chegamos à conclusão de que o momento é de ficarmos juntos e, quanto antes retornarmos, melhor para a recuperação. Apesar de todas as iniciativas, o sofrimento será inevitável", avalia a professora.

Por meio desses encontros periódicos, os dez centros juntamente com membros da Administração Central realizaram um mapeamento dos setores mais atingidos com o falecimento das vítimas do incêndio. A partir disso, apontaram-se as políticas de acolhimento, iniciando emergencialmente pelo Centro de Ciências Rurais, onde foi realizada reunião no dia 31, passando pela Casa de Estudante, em que já começou um trabalho da coordenação da Casa junto com a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), chegando ao Hospital Universitário (HUSM). Posteriormente, englobará os outros centros.

A construção de um memorial em homenagem às vítimas do incêndio está sendo projetada pelos arquitetos da Pró-reitoria de Infraestrutura da UFSM. Ainda não há definições sobre prazos ou espaço físico para a obra.

Centro de Acolhimento e o auxílio às vítimas

O Centro de Acolhimento da UFSM atende a comunidade envolvida no incêndio da boate Kiss. O objetivo é encaminhar alunos e servidores para atendimento na rede de saúde mental disponível e auxiliar na recepção dos alunos e servidores nas unidades de ensino. O serviço funciona de 8h às 18h, por tempo indeterminado.
O Centro integra ações de psicologia, serviço social e enfermagem no atendimento. Com o auxílio prévio da equipe de profissionais, alunos e servidores estão sendo repassados para atendimento na rede municipal de saúde mental, em clínicas cadastradas no Conselho Regional de Psicologia, em clínicas escola, e também no Setor Psiquiátrico do Hospital Universitário.

A equipe do Centro de Acolhimento está realizando também ações de auxílio nas unidades de ensino da universidade. A partir de um mapeamento realizado por gestores, foi constatada a necessidade de atendimento ao Centro de Ciência Rurais (CCR), onde se realizou a primeira ação englobando docentes e técnico-administrativos.

Homenagem -  Para recepcionar a comunidade acadêmica no dia 4 de fevereiro,  foi organizada uma palestra de acolhimento neste Espaço Multiuso. O tema "Luto, dor e superação" foi abordado pela professora Claudia Fonseca, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e pelo terapeuta Sérgio Veleda, professor da Escola de Meditação e Artes Contemplativas Vale do Ser. A palestra foi promovida pelo Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH).

Outra atividade de acolhimento organizada pela universidade aos seus alunos foi um culto ecumênico para prestar mais uma homenagem às vitimas da tragédia. Centenas de estudantes, alunos, professores e servidores compareceram. A cerimônia, guiada pelo Padre Xiko, contou com representantes, além da Igreja Católica, da Igreja Luterana, Igreja Carismática de Jesus Cristo, Protestantes e Comunidade Judaica. Em uma hora de celebração, a emoção e a fé tomaram conta dos participantes. Os celebrantes deixaram mensagens de apoio às famílias e aos amigos, pedindo que os presentes continuem o sonho dos jovens que perderam a vida. No final do Culto, 116 velas acesas se espalharam na multidão nas mãos dos estudantes, representando cada um dos alunos da UFSM que perdeu a vida na tragédia.

(Edna Ferreira, Jornal da Ciência)

Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85813 

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